quarta-feira, 8 de abril de 2009

Uma história de três AA, uma recaída fatal e um regresso...

Foi um fim-de-semana (quase) grandioso em Chaves. Chegado ao Casino para o “aquecimento” da etapa #4 da Solverde Poker Season com a entrada no bolso, conquistada através dos satélites da PokerStars, tratei de me increver num Sit n’ Go, como é costume, para começar a desenferrujar os dedos e tomar de novo o peso às fichas. E o aquecimento não podia ter corrido melhor: objectivo cumprido, com mais uma entrada conquistada… Mais 110 euros no bolso, o que me colocava, de novo, num verdadeiro freeroll live, pois o valor chegava e sobrava para o rebuy e add on no dia seguinte.

Sigo para o bar para reconfortar a barriga e não resisto a passar pelo Jomané, que me espicaçara logo à chegada ao perguntar como é que eu tinha conseguido enganar tanta gente no satélite da Stars… “Jó! Não há aí mais nenhum satélite? Sei lá, arranja qualquer coisa, nem que seja a jogar para a estadia grátis no hotel, por exemplo!”. É então que o “pai” esbugalha os olhos e comenta: “Ganhaste outra entrada? F#$@-se! Estás feito um jogador de satélites do c%&*#@!”

As palavras do “boss” encheram-me, naturalmente, o ego… Afinal, devem-se aos meus resultados durante as últimas duas semanas. Depois de conquistar a entrada para o BPPT do Estoril, o acesso ao torneio decisivo para Chaves foi também garantido num satélite de $2,20R. Depois foi a entrada em si no $55 freezout, ao que sucedeu nova entrada para o mesmo torneio no sit disputado no próprio casino, com um triunfo numa etapa da Liga PokerPT.com pelo meio. Acredito que há um motivo para esta sequência de resultados mas ainda não o vou revelar. Preciso de o confirmar primeiro…

Adiante… Entro no torneio principal mais confiante do que nas vezes anteriores. A participação no BPPT do Estoril, como já referi, deixou-me mais confiante para as minhas prestações ao vivo e pude confirmar isso mesmo, novamente, em Chaves. Os primeiros dois níveis são “sui generis” pela possibilidade de rebuy pelo que decidi andar ali de “cheirómetro” ligado com mãos especulativas, que me pudessem deixar em aberto no flop para uma sequência ou um flush. Mas os flops não encaixavam e começava a ver as minhas possibilidades de entrar numa corrida que me desse o double up a ficarem reduzidas…

É então que um jogador faz limp UTG e eu vejo TT na minha mão. Por lhe ter visto anteriormente um movimento igual ao que relato a seguir com AQ, faço o raise esperando que a “história” se repita. Bingo! Depois de toda a mesa foldar o jogador UTG anuncia all in e dou instant call, esbarrando pela primeira vez num par de AA. Nada na board e fico reduzido a 1200 fichas a cerca de 10 minutos do fim do período de rebuys.

Esbarro pela primeira vez, pois… É que não mão seguinte estou eu UTG e vendo 99 na minha mão procuro imediatamente a corrida anunciando all in. Eis que um jogador duas ou três posições adiante anuncia re-raise all in. “Outra parede?”, perguntei-lhe. E que parede! AA outra vez… Olhó kunaaaaaaami fresquinho! Dá cá mais uma ficha de 5 mil…

Anuncio à mesa que vou apenas “defender” as minhas blinds nas mãos que se seguem, ficarei sit out depois para não cair em tentações e que o meu range de mãos jogáveis estava reduzido praticamente a zero... Há um raise UTG e vejo novamente TT na minha mão… Call e gargalhada geral na mesa! O flop traz T high card para nuts mas checo para não descontrolar o pote, apesar de duas espadas na board. Vilão check e o turn traz mais uma espada. Check, check e as minhas preces perante a terceira espada no turn são ouvidas. Dobra um 3, dando-me second nuts e aposto meio pote. O jogador UTG decide satisfazer a curiosidade da mesa, dando call com AK e dando-me mais umas fichinhas… Not bad… Saio para o intervalo com 10,8k depois do add on.

Este intervalo permitiu-me confirmar o meu maior à vontade em torneios live. Sei que há uns meses, se esbarrasse duas vezes seguidas em AA, o rol de asneiras que se seguiria seria de tal ordem que não deveria durar nem mais uma hora… Mas desta vez estava incrivelmente confiante e a mensagem que passava a toda a gente era: “Já bati nas paredes em que tinha de bater neste torneio. A partir de agora é sempre a somar!”

E foi mesmo! Com destaque para uma jogada onde entrei com 67 suitted e a board final apresentava Q 2 3 4 5 arco íris. O Leguito na BB sai a apostar 625, o que me deixa algum tempo a pensar quanto poderei raisar para que ele me pague com um A ou um 6. Como estão ainda mais dois jogadores envolvidos subo a parada para 2.000 e recebo call de todos!!! Perante este cenário, pensei sinceramente que dividiria o pote com pelo menos um outro jogador mas não… Quase 10 mil fichas só para mim, colocando-me, nesse momento, em 30 mil com a média a rondar as 13 mil!

Depois, fui conseguindo manter a stack até de mudar de mesa, já na fase em que se começam a ouvir os primeiros all ins consecutivos dos shorts. E foi precisamente numa das últimas mãos antes do jantar que fiz a jogada que me deixa mais dúvidas. Com pouco mais de 30k, recebo AQ e raiso, ao que um inglês na BB responde com all in de 10k. Depois de refectir um pouco e de concluir que ele estava em modo “double or nothing” decidi aceitar a corrida contra 55 para 1/3 da minha stack. Comentei durante o jantar que não devia ter dado aquele call a tantas fichas. Mas por outro lado, penso que ficou dado um recado à mesa: “Se não querem comprometer o vosso torneio num 50/50, cuidado com as mãos com que fazem push aos meus raises!”

Talvez por isso (ou talvez não), os primeiros níveis após o jantar foram um sonho. Com as blinds já relativamente elevadas, as antes e um lado esquerdo que era um miminho consegui recuperar (e até mesmo aumentar) a minha stack sem showdowns. Com QQ elimino o TCMoreira e disparo para as 60 mil. É então que um vilão, notoriamente pegado comigo por uma tribet que lhe dei na SB – com uma mão sólida e desconfiando que o seu raise se tratava de um roubo em posição – decide entregar-me as suas fichas todas (quase tantas quanto as minhas).

Pensei poupar-vos ao relato desta mão, visto que já todos a viram no Live Report da PokerPT. Mas essa não revela os pormenores da mente! J

O tal vilão decide fazer limp em MP e eu, no botão, raiso 4 BB’s (para 8k, na altura), para afastar (im)possíveis cheirões nas blinds. Estas foldam e, observando o limper, noto-o visivelmente incomodado/irritado com o meu raise alto no dealer… Então ele decide pagar. “Pobre diabo!”, pensei. “Se bate um A ou um K neste flop vou sacar-te as fichinhas todas!”.

O flop não podia ter sido melhor. A T x arco íris e noto que o adversário continua visivelmente agitado/perturbado. Ele check e eu bet 12k enquanto penso: “Faz lá o teu push!”. PLIM! Juro! O “diálogo” que se seguiu foi o seguinte:

Vilão: “All”…
RugbyWolf: “CALL”
Vilão: “in”…

Vilan mostra QT e as cartas seguintes não trazem nada de novo. Ele há coisas…

Pela primeira vez na condição de chip leader de um live, percebo que o meu primeiro ITM está ali mesmo ao alcance. O resto da história do Dia 1 resume-se ao AA que o Tokas me rebentou com K9. Uma mão que me teria mandado para o Dia 2 com confortáveis 150 mil fichas, ao invés das 90 mil. Paciência…

Chega então o Dia 2 que, infelizmente, se resume a duas mãos e uma recaída fatal na minha tendência para o tilt. Recebo JJ UTG e faço um standard raise, ao que o chip leader do torneio anuncia reraise all in. Um jogador numa posição posterior anuncia call all in. Penso, penso, penso no que não tem nada que pensar. A minha única possibilidade era que tivessem ambos AK e estivessem a tirar outs um ao outro. Mas ao contrário da opinião de muitos, li a mão na perfeição. O monstro (KK) estava nas mãos do chip leader, enquanto o outro jogador se apresentava de AQ suitted.

O que me levou a este raciocínio? Simples… Isto é o que eu chamo de SCLCM (Síndrome de Chip Leader Com Mosntro). É bastante provável que ele tenha recolhido informações sobre os jogadores da sua mesa, pelo que deverá saber que não sou jogador de fazer raise com mãos fracas (muito menos UTG!!!). Mesmo que não tenha recolhido este tipo de informações, perante a minha stack, sabe que eu tenho uma mão forte para anunciar raise naquela posição. Tenta, por isso, chamar o meu call pela via de uma eventual incapacidade minha para largar QQ e JJ ou fazer-me acreditar que estou numa corrida com AK.

Fiz o que tinha a fazer… Larguei o JJ mas… fiquei verde ao ver bater um J no turn! O meu torneio acabou na mão seguinte quando ao raise do mesmo jogador UTG respondo com reraise all in com o meu A9. Erro crasso. Sei que vou receber call mesmo que ele tenha 72 off, pelo que acredito que com as minhas 10 BB’s poderia ter esperado mais uma órbita por uma mão melhor ou por um bom spot para roubar as blinds. É que naquela fase, incrivelmente, dois roubos de blinds bem sucecedidos mandam um jogador com apenas 10BB’s para uma posição bastante mais confortável.

Enfim… Valeu pelo meu primeiro ITM e pela experiência acumulada. E valeu pela confiança conquistada para jogar live. Depois do “retiro espiritual” a que me propus, anunciando que jogaria apenas quando ganhasse a entrada através de satélites, posso anunciar que esta prestação voltou a colocar a Solverde Poker Season na minha agenda. Inclusivamente a etapa #6, a especial de €350 em Vilamoura. Os €212 que lucrei neste torneio já estão colocados de parte para que em Junho baste largar apenas o valor de uma etapa regular e jogar a especial!

Obrigado a todos pelo apoio que fui recebendo ao longo do torneio. VAMOOOOOOOOOOS!

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